só em mim passa uma dor igual a tua...

Arranco uma lasca de madeira

Da árvore a que te confessas

E rasgo o peito com os teus segredos

Ou dilacero-me nos mesmos tormentos auto-induzidos

Posso sofrer das mesmas dores que te infligem

E morrer das mesmas angústias

Ou dos mesmos enganos

Se eu queimasse as asas como tas ferem a ti

Ou procurasse vingança naquilo de que te vingas

Ou me injectasse com a mesma podridão

Seria justo.

Seria justo

Que esperasse como tu a ressurreição

Que desejasse ser perdoado

Que tombasse de joelhos nos mesmos degraus em que tropeças

Que me confinasse ao mesmo quarto enfermo

Permanecesse amarrado à mesma cadeira a que te atam

E seria até justo

E porque te sou

Suicídio ainda assim

Se fosses tu a fazê-lo!

Amor é um vocábulo tão forte

É justo que sejas só tu, perfeita, a dizê-lo…

Se as palavras parecem doer-me, não é porque tenha nascido em mim algum mal, ou porque te veja de outra forma que não a que sempre vi… é o meu desabafo que é assim. Não criaste nada, nem aquilo que sinto. Não há censuras, já não há metas, não há fins.

É em mim que tudo se passa, e tudo se passa só em mim, inconsequente, sem te trespassar, atravessando-te apenas, indelével, transparente, talvez até irreconhecível. Que desejos comportará um olhar carinhoso, que sentenças são as que a ternura dita?



Vale dos Anjos, 2008

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